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O SISTEMA DE MONITORAMENTO EM TEMPO REAL E OS DESAFIOS PARA A PRIVACIDADE NO BRASIL

O Córtex é uma ferramenta de inteligência sofisticada, mantida pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), que permite o monitoramento de pessoas e veículos em tempo real em várias regiões do Brasil. Esse sistema abrange municípios e rodovias, possibilitando que consultas sejam realizadas sem a necessidade de justificativas ou motivações registradas, o que significa que os indivíduos podem ser monitorados sem autorização judicial ou vínculo a investigações formais.

Informações obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação revelam que mais de 55 mil usuários, tanto civis quanto militares, possuem acesso ao sistema, distribuídos por aproximadamente 180 órgãos públicos. O próprio MJSP reconheceu que, para acessar as funcionalidades do Córtex, não é necessário justificar a escolha dos “alvos” monitorados. Segundo a pasta, a ausência de motivação é justificada pelo foco do sistema em atividades de segurança pública. No entanto, caso surjam suspeitas de uso indevido, cabe à auditoria atuar para investigar essas situações.

Apesar dessa supervisão ser prevista, a eficácia do controle sobre o uso do Córtex tem sido questionada. De acordo com dados do MJSP, apenas 62 relatórios de auditoria foram produzidos desde o início da operação do sistema até o presente, em um cenário que já identificou cerca de 360 mil alvos entre 2019 e 2022. Essa baixa frequência de auditorias contrasta com a amplitude do monitoramento realizado, que inclui acesso a informações sensíveis de diversas bases de dados, como registros de salários e informações de saúde.

A abrangência do sistema também se estende a câmeras de vigilância em vias públicas, com cerca de 35,9 mil dispositivos espalhados por todo o país, integrados ao recurso conhecido como “cerco eletrônico”. Essa funcionalidade permite que veículos sejam rastreados em tempo real a partir da leitura de placas, monitorando seus deslocamentos em diferentes regiões.

A falta de um controle mais rigoroso e independente sobre o uso do Córtex levanta preocupações quanto à possibilidade de vigilância arbitrária, incluindo casos de monitoramento de familiares ou cônjuges de agentes que possuem acesso ao sistema. Embora o MJSP tenha discutido medidas para alertar sobre possíveis abusos, como a vigilância de veículos de familiares, não há garantias de que tais práticas sejam evitadas.

O uso indiscriminado do sistema foi tema de investigações, que revelaram casos de consultas em massa, sugerindo o uso de tecnologias automatizadas para acessar os dados de forma intensiva. Há ainda suspeitas de que indivíduos sem ligação com órgãos de segurança pública possam ter tido acesso ao Córtex, um cenário que já foi objeto de outras reportagens e análises.

O sistema foi implementado originalmente durante o governo anterior, mas continua a ser expandido na administração atual, integrando-se a uma iniciativa maior de inteligência voltada ao combate ao crime organizado, denominada Orcrim. Com isso, o Córtex passa a ser apenas um componente de uma plataforma mais ampla, que busca centralizar o controle e a análise de informações para fins de segurança pública.

As parcerias firmadas entre o MJSP e prefeituras, bem como outros órgãos estaduais, por meio de Acordos de Cooperação Técnica (ACTs), ampliam ainda mais o alcance do sistema. Em troca de acesso ao Córtex, esses órgãos compartilham suas próprias bases de dados, como informações de bilhetagem de transporte público, que incluem dados como CPF e nomes de passageiros, além de localização e horários de embarque.

Essa rede de monitoramento sem precedentes levanta questões sobre a privacidade dos cidadãos e a necessidade de maior transparência e controle sobre seu uso, especialmente em um cenário onde os dados pessoais se tornam cada vez mais sensíveis. O equilíbrio entre a segurança pública e os direitos individuais torna-se um ponto crucial nesse contexto, exigindo uma reflexão sobre os limites da vigilância no Brasil.

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RECONHECIMENTO FACIAL: COMBATE ÀS FRAUDES E A NECESSIDADE DE SOLUÇÕES MAIS SEGURAS

O reconhecimento facial, uma tecnologia amplamente utilizada para autenticação em diversos setores, está sob crescente ameaça devido ao aumento das fraudes por técnicas de spoofing. Criminosos têm demonstrado habilidades cada vez mais sofisticadas para enganar sistemas que, até recentemente, eram considerados altamente seguros. Estima-se que o mercado global de reconhecimento facial atinja US$ 13,87 bilhões até 2028, mas o crescimento dessa indústria traz consigo desafios significativos, especialmente no que diz respeito à segurança e confiabilidade dos sistemas.

As fraudes em reconhecimento facial são facilitadas por técnicas avançadas de spoofing, que manipulam sistemas por meio de fotos, vídeos ou até máscaras 3D. A atratividade de usar o próprio rosto como uma senha, embora conveniente, apresenta riscos consideráveis. Isso ocorre porque o rosto é uma característica invariável e, muitas vezes, pública, o que facilita a coleta de dados pelos fraudadores. A segurança dos sistemas de reconhecimento facial depende, portanto, tanto da robustez do dispositivo utilizado quanto da qualidade do algoritmo implementado.

Nesse contexto, a cibersegurança se torna um tema central. Com os crimes cibernéticos projetados para custar ao mundo cerca de US$ 10,5 trilhões por ano até 2025, a necessidade de identificar e mitigar fraudes em sistemas de reconhecimento facial é mais urgente do que nunca. As soluções para combater essas fraudes incluem treinamentos contínuos dos modelos de IA e investimentos em produtos de biometria de alta qualidade. No entanto, a pressa em lançar novos produtos pode levar a falhas, resultando em sistemas que não são suficientemente testados ou que possuem vieses prejudiciais.

Pesquisas, como a realizada pelo MIT em 2020, destacam a importância de um desenvolvimento cuidadoso e inclusivo desses sistemas. A pesquisa mostrou que sistemas de reconhecimento facial apresentavam taxas de erro significativamente mais altas ao identificar pessoas de diferentes etnias, com uma discrepância alarmante: taxas de erro de até 35% para mulheres de pele escura, em comparação com menos de 1% para homens de pele clara. Isso evidencia a necessidade de mais pesquisas e investimentos em soluções robustas para garantir a proteção de dados e a integridade dos sistemas.

Em um ambiente digital cada vez mais interconectado, a segurança de dados e a confiança nas tecnologias emergentes são prioridades que exigem atenção contínua. A evolução dos métodos de autenticação e a melhoria dos algoritmos são essenciais para enfrentar os desafios impostos pelas fraudes e garantir a segurança dos usuários.

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CAPETINHAS: UMA NOVA AMEAÇA À SEGURANÇA RESIDENCIAL E VEICULAR

Nos tempos modernos, a tecnologia é uma aliada essencial em nossa rotina, oferecendo conveniência, segurança e conectividade. No entanto, à medida que inovamos, surgem também novos desafios, especialmente na forma de criminalidade tecnológica. Um exemplo preocupante são os “capetinhas”, dispositivos utilizados por criminosos para interferir e bloquear sinais de comunicação, representando uma séria ameaça tanto para residências quanto para veículos.

O que são Capetinhas e como Funcionam?

Também conhecidos como bloqueadores de sinais de radiocomunicação (BSR) ou jammers, os capetinhas são dispositivos eletrônicos criados para interferir e bloquear sinais de comunicação sem fio, como Wi-Fi, GPS e rádio. Criminosos utilizam esses aparelhos para dificultar a operação de dispositivos eletrônicos de segurança, como câmeras, alarmes, rastreadores veiculares e sistemas de segurança residenciais e automotivos.

Esses dispositivos operam emitindo sinais de radiofrequência que interferem com os sinais de comunicação sem fio em sua proximidade. Eles podem atuar em diversas faixas de frequência, dependendo do tipo de sinal que se deseja bloquear. Discretos e facilmente transportáveis, os capetinhas podem ser escondidos por criminosos, tornando-se uma ferramenta eficaz para a sabotagem de sistemas de segurança.

Por exemplo, um capetinha ativado próximo a uma câmera de segurança sem fio pode emitir sinais que interferem na frequência da câmera, fazendo com que ela perca a conexão com o sistema de monitoramento ou grave imagens distorcidas. Da mesma forma, ao ser utilizado próximo a um rastreador veicular com GPS, um capetinha pode interferir no sinal de GPS, impedindo a localização precisa do veículo.

Modelos mais avançados desses dispositivos podem ser controlados remotamente ou programados para operar automaticamente em determinados horários ou em resposta a eventos específicos. Alguns até escaneiam e identificam automaticamente os sinais de comunicação sem fio presentes no ambiente, adaptando-se para bloqueá-los de forma eficaz.

Como Proteger Seu Carro e Casa

Com a crescente utilização de capetinhas por criminosos, é crucial adotar medidas preventivas para proteger tanto sua residência quanto seu veículo. Aqui estão algumas dicas essenciais para garantir uma proteção eficaz:

1. Instalação de Sistemas de Segurança com Fio: Prefira sistemas de segurança que não dependam exclusivamente de redes sem fio. Câmeras e alarmes com fiação física são menos suscetíveis a interferências.

2. Utilização de Sistemas de Monitoramento Redundantes: Combine sistemas sem fio com sistemas com fio. Dessa forma, se os sinais sem fio forem bloqueados, os sistemas com fio continuarão operando.

3. Proteção Física dos Dispositivos: Instale câmeras de segurança e rastreadores veiculares em locais de difícil acesso e proteja-os contra danos e manipulações.

4. Atualização e Criptografia de Redes Wi-Fi: Mantenha sua rede Wi-Fi protegida com senhas fortes e atualize regularmente o firmware do roteador. Use criptografia WPA2 ou WPA3 para garantir a segurança das comunicações sem fio.

5. Monitoramento Constante: Fique atento a atividades suspeitas ao redor de sua casa e veículo. Verifique regularmente o funcionamento dos sistemas de segurança e esteja alerta para sinais de interferência.

6. Denuncie Atividades Suspeitas: Se identificar atividades criminosas ou suspeitas, como interferência em redes sem fio ou tentativas de invasão, denuncie imediatamente às autoridades competentes.

Os capetinhas representam uma ameaça significativa à segurança, permitindo que criminosos desativem sistemas de segurança eletrônica e comunicação, facilitando atividades ilícitas como roubos e invasões. Estar ciente dos riscos e adotar medidas preventivas é fundamental para proteger sua casa e veículo. Mantenha-se atualizado sobre as técnicas utilizadas por criminosos e tome as precauções necessárias para garantir sua segurança e a de seus bens.