O Impacto dos Estelionatos e Fraudes Digitais
O celular, outrora apenas um meio de comunicação, tornou-se um valioso objeto de desejo no mundo do crime. Em 2019, os roubos e furtos de aparelhos celulares ultrapassaram a marca de 1 milhão, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Embora tenha havido uma redução nos números, com 937.294 registros em 2023, a aparente queda pode mascarar uma realidade: enquanto os roubos diminuem, os furtos permanecem elevados. A razão por trás dessa cobiça é clara.
Para os criminosos, o celular é uma porta de entrada para crimes mais sofisticados, como a captura de senhas bancárias, dados de cartões de crédito e débito, informações pessoais e acesso a aplicativos de compras. Mesmo quando bloqueado, o aparelho pode ser vendido em mercados onde as medidas de bloqueio de celulares brasileiros são ineficazes. As fraudes digitais emergiram como crimes de baixo risco e alto retorno.
Esses crimes, quando denunciados, são frequentemente classificados como estelionatos. Em 2018, os registros de roubos superavam em 1 milhão os de estelionatos. No entanto, em 2023, impulsionados pelas informações obtidas de celulares e por ligações telefônicas fraudulentas, os estelionatos superaram os roubos em 1,1 milhão de casos. Essa inversão revela uma mudança significativa no cenário criminal. Simultaneamente, assaltos a bancos e outras instituições financeiras diminuíram em quase 30% de 2022 para 2023.
Essas transformações apresentam novos desafios para as forças de segurança. Segundo os pesquisadores do FBSP, a polícia ainda não está plenamente adaptada para combater eficientemente os crimes digitais. Ferramentas cruciais de inteligência financeira, como o sistema do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), são subutilizadas pelas polícias estaduais. Além disso, há uma escassez de policiais treinados para enfrentar essa nova modalidade de crime. Quando um agente se qualifica, muitas vezes é atraído pelo setor privado, onde os salários são mais altos. A cibersegurança é uma preocupação crescente no mundo corporativo, que demanda profissionais altamente capacitados.
No futuro, é indiscutível a tendência de aumento da criminalidade digital, facilitada pelo acesso a informações pessoais de celulares. O avanço tecnológico tem possibilitado a criação de crimes ainda mais sofisticados, como ligações fraudulentas que utilizam inteligência artificial para simular a voz de pessoas conhecidas. A relevância desse tema exige uma política pública específica, não apenas para informar a população sobre os riscos, mas também para capacitar os policiais, privilegiando a inteligência e o conhecimento técnico sobre a força bruta.
É necessário que as forças de segurança se atualizem e se preparem para enfrentar os desafios impostos pelos crimes digitais. A implementação de medidas educativas e a formação de profissionais especializados são passos essenciais para garantir a segurança da população em um mundo cada vez mais digitalizado.