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POR QUE IGNORAR PESSOAS PELO CELULAR PREJUDICA AS CONEXÕES HUMANAS?

Phubbing: O Impacto do Comportamento de Ignorar Outros Pelo Celular

O termo “phubbing” resulta da combinação de “phone” (telefone) e “snubbing” (esnobar), surgindo em 2012 em uma campanha australiana para conscientizar sobre o crescente hábito de ignorar a companhia em prol do celular. Embora os smartphones sejam ferramentas de conexão, ironicamente, essa prática vem se tornando uma barreira nas relações sociais. O phubbing revela uma nova faceta do vício em tecnologia, com efeitos psicológicos e sociais profundos.

Estudos mostram que o phubbing afeta não só a qualidade das interações, mas também a percepção de momentos simples, como uma refeição: 97% das pessoas dizem que a distração do celular reduz a apreciação da comida. Esse hábito também atinge em cheio os relacionamentos pessoais, resultando em um aumento da solidão e redução da satisfação nas amizades, o que impacta diretamente o bem-estar psicológico. Na esfera familiar e romântica, o phubbing se revela ainda mais prejudicial, levando a sentimentos de rejeição e exclusão, além de intensificar o isolamento emocional e a insatisfação.

A prática também está associada a uma maior probabilidade de envolvimento com redes sociais, como ocorre com quem tem alto nível de FoMO (medo de perder algo). Esse receio de “estar por fora” alimenta o phubbing, promovendo consequências psicológicas significativas, como redução da autoestima e do senso de pertencimento e aumento dos sintomas de depressão.

Consequentemente, o phubbing afeta não apenas a amizade, mas também a vida amorosa. Casais que enfrentam o phubbing relatam insatisfação, conflitos e sentimentos de alienação. Em um cenário onde o smartphone substitui a atenção, cresce o desgaste emocional e o distanciamento, evidenciando a importância de reavaliar o uso dos dispositivos.

Para evitar esse ciclo, é crucial conscientizar sobre o uso do celular e estabelecer limites. Psicólogos e terapeutas ocupacionais têm contribuído com práticas como “zonas livres de celular” e o desenvolvimento de habilidades sociais para ajudar a recuperar a conexão entre as pessoas. Intervenções terapêuticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), auxiliam na reeducação tecnológica, enquanto técnicas de mindfulness e regulação emocional orientam as pessoas a estarem mais presentes nas interações. Em contextos familiares, essas práticas podem fortalecer vínculos, reduzindo os impactos da distração digital e promovendo uma comunicação mais saudável.

O phubbing pode parecer um comportamento trivial, mas as pesquisas indicam que ele tem consequências reais para a saúde mental e para as relações interpessoais. Com a abordagem certa, é possível restaurar o equilíbrio e a presença nas interações, favorecendo o bem-estar e a qualidade das conexões humanas.

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TRABALHO DIGITAL E QUALIDADE DE VIDA: DIRETRIZES PARA O DIREITO À DESCONEXÃO

A revolução digital está transformando o mundo do trabalho de maneira profunda. Nas últimas décadas, a crescente adoção de ferramentas digitais e tecnológicas tem possibilitado que as pessoas trabalhem em qualquer lugar e a qualquer momento. A pandemia de Covid-19 acelerou ainda mais esse processo. Embora a digitalização do trabalho e a expansão do teletrabalho ofereçam inúmeras vantagens em termos de flexibilidade, produtividade e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, também podem acarretar desafios, como aumento da carga de trabalho, longas horas de trabalho, confusão entre os limites do tempo de trabalho e de descanso, e aumento do estresse devido à vigilância e monitoramento contínuos da produtividade. Esses fatores podem ter um impacto negativo na saúde física e mental dos trabalhadores.

Portanto, é imperativo considerar a regulamentação de certos aspectos do novo ambiente de trabalho digital, a fim de mitigar pelo menos alguns dos impactos negativos resultantes do uso frequente de ferramentas digitais. Nesse contexto, surge a importância do “direito à desconexão” (R2D). Os dez Princípios Orientadores definidos pelo European Law Institute (ELI) estabelecem uma base regulatória equilibrada para o R2D na Europa.

Esses Princípios Orientadores têm um alcance amplo e destinam-se a todos os sistemas jurídicos europeus, não se limitando à União Europeia, dado que o problema da conectividade excessiva é generalizado. Tanto a legislação nacional quanto os documentos legislativos e políticos da UE podem servir como inspiração global, incluindo países como o Brasil. A conciliação entre uma regulamentação de amplo alcance e a necessidade de adaptação do R2D às peculiaridades de cada país, setor e empresa é um desafio refletido nesses princípios. Portanto, a subsidiariedade, a coordenação das fontes regulatórias e o escopo são aspectos fundamentais a serem considerados.

A tensão entre regulamentações abrangentes e a necessidade de adaptação local é evidente nessas diretrizes. Elas enfatizam a importância da negociação coletiva ou da regulamentação a nível empresarial ou dos trabalhadores para definir as regras específicas de implementação do R2D. Isso visa atender às realidades de cada local de trabalho, mas não impede a introdução de regras claras para garantir a eficácia do R2D. O equilíbrio entre princípios gerais e implementação específica é fundamental.

No que diz respeito ao escopo (Princípio Orientador 2), as diretrizes propõem que o R2D seja aplicável a todos os trabalhadores, conforme definido na legislação da UE e na legislação nacional. Isso é consistente com os objetivos de proteção da saúde dos trabalhadores e busca por um melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal. O R2D não deve ser restrito a categorias específicas de trabalhadores, abrangendo todos aqueles que trabalham sob controle e subordinação, incluindo trabalhadores autônomos. Os executivos também estão incluídos, mas seu escopo e termos podem variar devido às suas responsabilidades específicas.

A adaptação das obrigações dos empregadores (Princípio Orientador 3) deve levar em consideração a realidade econômica, incluindo o tamanho das empresas, para evitar imposições excessivamente onerosas. A flexibilidade é promovida, e as negociações coletivas desempenham um papel importante na proteção dos interesses dos empregadores, independentemente do tamanho da empresa.

Esses Princípios Orientadores foram desenvolvidos com base em discussões e reflexões coletivas, buscando conciliar os interesses de todas as partes e promover uma ampla aplicação do R2D para aqueles que necessitam. As mudanças tecnológicas e os desafios do trabalho digital exigem uma regulamentação equilibrada para garantir a proteção dos trabalhadores e o respeito pelo equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.